sexta-feira, agosto 07, 2015

(Ex)citações de fim de semana

"Devo muito da minha formação e personalidade à cultura católica e desejaria que o facto de perder a fé não implicasse o desamor ou sequer a falta de respeito pela Igreja.
Infelizmente isso não sucede. O oportunismo da Igreja Católica nos últimos anos fez com que deixasse de ser respeitável. Disseram-me que estava construída sobre uma rocha inabalável: e em vez de rocha apareceu areia. Os ensinamentos colhidos na minha juventude, sobre os quais construí a vida moral, a concepção social, a visão política, tudo mudou. Há cinquenta anos sabia que  onde estava um católico, estava um irmão de fé que pensava como eu; hoje havia a grande possibilidade de encontrar um encarniçado inimigo. Eu perdi a fé e com isso não quero enganar ninguém; mas aqui no Brasil há cardeais que visivelmente a perderam e continuam pastores de almas.
Os meus contactos políticos com a Santa Sé revelaram-me que muitos dos dirigentes da Igreja são políticos e diplomatas, mas só por conveniência  profissional são sacerdotes.
Lastimo ter perdido a fé; não lastimo que por esse motivo não possa mais dizer-me católico ou cristão. Sobretudo católico.
Isto não quer dizer que não conserve as minhas amizades no seio da Igreja. Continuo a visitar  no Rio de Janeiro o Mosteiro de S. Bento. E sei separar as pessoas dos meus problemas de consciência". 
Carta (datada de 06-05-1979) de Marcello Caetano a Laureano López Rodó (professor universitário, político e ministro do regime franquista)