Neurociências e Espiritualidade
Conferência de Miguel Castelo Branco (Instituto Biomédico de Investigação
de Luz e Imagem-IBILI, Universidade de Coimbra)
Fez
referência a alguns estudos que parecem evidenciar que a dimensão
espiritual pode influenciar a cura ou a
reversão da doença e aumentar a longevidade de vida. A crença religiosa
pode ser um factor de protecção, sendo simultaneamente portadora de
sentido.
Desmistificou
a pretensa imunidade da ciência face à
religião e à dimensão espiritual, ao afirmar que toda a visão holística do
mundo é uma forma de fé na sua forma mais básica. Desta forma, os cientistas
ateus podem ter um pensamento profundamente espiritual. Por outro lado, a procura científica pode ser um acto de fé. E a
descoberta de novos níveis de complexidade e propriedades emergentes podem
levar a experiências profundamente espirituais.
Criticou
incongruências no campo da ciência, pois a mesma pretende construir tijolo a
tijolo, mas depois aventura-se a estudar a metacognição em ratos, o que é impossível,
pois a mesma apela à introspecção, o que neste caso é impossível.
Pôs em
causa a conclusão de muitos estudos baseados em correlações estatísticas. “O
que explicam afinal?” Perguntou. Criticou ainda o reducionismo na ciência.
Apresentou
alguns resultados em imagens a partir da neuroimagiologia cerebral para
exemplificar as alterações e áreas cerebrais implicadas nas respectivas tarefas
ou actividades. Nesta sequência, afirmou que o cérebro tem muita plasticidade.
A prática sucessiva leva a alterações. Uma pessoa que reza diariamente, por
exemplo, apresentará diferenças.
Refutou a
atribuição de alterações espirituais/conversões de místicos e santos, como a de
S. Paulo, a psicopatologias, pois é difícil comprová-las. No caso vertente,
fica sempre por explicar como é que uma visão/estado alterado da mente altera
radicalmente e para sempre o percurso de um homem.
Deus também é Mãe
Conferência de Isabel Gómez-Acebo ( Universidade de Comillas, Madrid)
Apresentou
muitas passagens da Bíblia que procuram transmitir uma imagem de Deus também
como Mãe, veiculadas no seu papel de
ternura, misericórdia, carinho…Muitos santos e místicos o fizeram através dos
seus escritos.
O Papa
Francisco parece querer resgatar esta perspectiva da visão de Deus e dar uma maior
importância ao papel das mulheres na Igreja.
Referiu que
deveria haver mais teólogas e que há uma maneira de comunicar Deus sob o ponto
de vista feminino.
Defendeu
que o predomínio do masculino é historicamente uma questão de poder; também na Igreja. E como a mesma está a
perder poder (e prestígio), isso afecta também necessariamente o número de
padres.
O Deus da Razão e o Deus da Fé
Conferência de Andrés Torres Queiruga ( Universidade de Santiago de
Compostela)
A fé
mediatiza-se dentro da cultura para poder expressar-se. Mas muitos nunca se
interrogaram por que acreditam. “Acreditam porque sim. Não posso acreditar por que
Deus revelou algo a alguém, mas a mim não diz nada ou até é contraditório com
aquilo que penso”, referiu. Têm de ser dadas e encontradas razões para
acreditar.
Não há
conhecimento de Deus que seja revelação
transmitida directamente ao homem. Não há nada escrito na Bíblia que não seja
escrito pelo homem. Por isso, há muitos significados e distintas interpretações
do mesmo Deus. A história humana é uma história da descoberta de Deus.
Mas as
religiões não são todas equivalentes.
Há razões
para acreditar que o Deus de Jesus
Cristo constitui o culminar da revelação. Nunca ninguém ousou, por
exemplo, chamar a Deus “Abba” (pai querido, paizinho). É um Deus que perdoa
incondicionalmente e manda amar até os próprios inimigos.
A abolição
da escravatura, que ninguém de bom senso põe em dúvida, é uma conquista irreversível e definitiva, Noutro plano, pode-se afirmar que Deus disse
em Cristo a última, a palavra definitiva.
Nota: Colóquio
organizado por Anselmo Borges