quarta-feira, outubro 16, 2013

DEUS AINDA TEM FUTURO? (3)

Neurociências e Espiritualidade
Conferência de Miguel Castelo Branco (Instituto Biomédico de Investigação de Luz e Imagem-IBILI, Universidade de Coimbra)
Fez referência a alguns estudos que parecem evidenciar que a dimensão espiritual   pode influenciar a cura ou a reversão da doença e aumentar a longevidade de vida. A crença  religiosa  pode ser um factor de protecção, sendo simultaneamente portadora de sentido.
Desmistificou a pretensa  imunidade da ciência face à religião e à dimensão espiritual, ao afirmar que toda a visão holística do mundo é uma forma de fé na sua forma mais básica. Desta forma, os cientistas ateus podem ter um pensamento profundamente espiritual. Por outro lado, a  procura científica pode ser um acto de fé. E a descoberta de novos níveis de complexidade e propriedades emergentes podem levar a experiências profundamente espirituais.
Criticou incongruências no campo da ciência, pois a mesma pretende construir tijolo a tijolo, mas depois aventura-se a estudar a metacognição em ratos, o que é impossível, pois a mesma apela à introspecção, o que neste caso é impossível.
Pôs em causa a conclusão de muitos estudos baseados em correlações estatísticas. “O que explicam afinal?” Perguntou. Criticou ainda o reducionismo na ciência.
Apresentou alguns resultados em imagens a partir da neuroimagiologia cerebral para exemplificar as alterações e áreas cerebrais implicadas nas respectivas tarefas ou actividades. Nesta sequência, afirmou que o cérebro tem muita plasticidade. A prática sucessiva leva a alterações. Uma pessoa que reza diariamente, por exemplo, apresentará diferenças.
Refutou a atribuição de alterações espirituais/conversões de místicos e santos, como a de S. Paulo, a psicopatologias, pois é difícil comprová-las. No caso vertente, fica sempre por explicar como é que uma visão/estado alterado da mente altera radicalmente e para sempre o percurso de um homem.
Deus também é Mãe
Conferência de Isabel Gómez-Acebo ( Universidade de Comillas, Madrid)
Apresentou muitas passagens da Bíblia que procuram transmitir uma imagem de Deus também como Mãe,  veiculadas no seu papel de ternura, misericórdia, carinho…Muitos santos e místicos o fizeram através dos seus escritos.
O Papa Francisco parece querer resgatar esta perspectiva da visão de Deus e dar uma maior importância ao papel das mulheres na Igreja.
Referiu que deveria haver mais teólogas e que há uma maneira de comunicar Deus sob o ponto de vista feminino.
Defendeu que o predomínio do masculino é historicamente uma questão de poder;  também na Igreja. E como a mesma está a perder poder (e prestígio), isso afecta também necessariamente o número de padres.
O Deus da Razão e o Deus da Fé
Conferência de Andrés Torres Queiruga ( Universidade de Santiago de Compostela)
A fé mediatiza-se dentro da cultura para poder expressar-se. Mas muitos nunca se interrogaram por que acreditam. “Acreditam porque sim. Não posso acreditar por que Deus revelou algo a alguém, mas a mim não diz nada ou até é contraditório com aquilo que penso”, referiu. Têm de ser dadas e encontradas razões para acreditar.
Não há conhecimento de Deus que  seja revelação transmitida directamente ao homem. Não há nada escrito na Bíblia que não seja escrito pelo homem. Por isso, há muitos significados e distintas interpretações do mesmo Deus. A história humana é uma história da descoberta de Deus.
Mas as religiões não são todas equivalentes.
Há razões para acreditar que  o Deus de Jesus Cristo constitui o culminar da revelação. Nunca ninguém ousou, por exemplo,  chamar a Deus “Abba”  (pai querido, paizinho). É um Deus que perdoa incondicionalmente e manda amar até os próprios inimigos.
A abolição da escravatura, que ninguém de bom senso põe em dúvida, é  uma conquista irreversível e definitiva,  Noutro plano, pode-se afirmar que Deus disse em Cristo a última, a palavra definitiva.
Nota: Colóquio organizado por Anselmo Borges