quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Recriação do Carnaval tradicional em Paus

Enquadramento
A comadre não foi feita na quinta-feira dos compadres nem o compadre foi feito na quinta-feira das comadres, como era costume ainda na década de sessenta do século passado. Nem tiveram de ser bem escondidos nem atiradas armas de arremesso, como penicos de urina, para os defender devidamente até terça-feira de Carnaval. Nesses dias, a alegria andava à solta. O compadre era provocatoriamente exposto por grupos de raparigas e a comadre por grupos de rapazes (por vezes, em cima de burros), competindo aos elementos do sexo oposto agarrá-lo (a) e roubá-lo (a), de forma a evitar que chegasse são (sã) e salvo(a) ao dia de Carnaval, anulando-se assim o respectivo testamento em caso de sucesso, isto é, caso fosse apanhado(a) pelo grupo adversário (do sexo oposto).
Nesta recriação "os bonecos" foram feitos por um grupo de jovens, a maioria deles ligados ao rancho. E , tal como no passado, a matéria prima foi palha de centeio, revestida com os respectivos fatos, fitas e adereços.
Desfile e animação musical
Após o almoço, uma camioneta de caixa aberta com o compadre e a comadre e um grupo de jovens mascarados a rigor percorreu as povoações do Vale, Fornelo, Paredinhas, S. Pedro do Souto, Córdova e Lages, alertando e avisando as pessoas para a festa de Carnaval. Entretanto, vários foliões esperavam-nos junto dos Carvalhos. Aqui teve início um desfile, por volta das 14h30, capitaneado pela comadre e compadre, que se dirigiu até à sede do rancho, onde decorreu um convívio com muita música.
Leitura dos testamentos
Às 17h00, procedeu-se à leitura dos testamentos da comadre e do compadre com alguma crítica social e muito humor, que provocaram grandes gargalhadas na numerosa assistência. O muito pouco tempo de preparação espevitou o engenho e a arte dos jovens.
A emoção subiu ao rubro com a queima (rápida) da comadre e do compadre.
Lanche e convívio
Seguiu-se um lanche com grelhados, vinho e pão. E um convívio no salão da sede do rancho, onde se dançou ou fez-se de conta que se dançou. À mistura, retomou-se o ritual dos "cus novos". Só que desta vez, como impõe a igualdade do género, foram dados a raparigas e a rapazes (ou homens crescidinhos, como foi o meu caso). Os (as) contemplados(as) foram agarrados pela cabeça e pelos pés, balanceados, sendo-lhes dito: "Um, dois, três...um p'ró pai, outro p'rá mãe e outro p'ra quem o fez!", sendo depois soltos para que o "cu" batesse no chão. O "responsório" também podia ser: "Um, dois, três...abanadinho, abanadinha, deixa o cu para outra vez".
Nota final
Como teste, esta primeira recriação foi um sucesso. As pessoas acorreram em grande número, estimando-se o mesmo em duzentos e cinquenta.
Espera-se que tenha continuidade como reposição da nossa genuinidade e da nossa tradição cultural.
Estamos gratos aos promotores desta iniciativa e a todos os que nela colaboraram.




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