terça-feira, outubro 30, 2007

"Diálogo inter-religioso" em Castro Daire

Embora sem a presença do Sheik David Munir, representante da comunidade islâmica, este painel serviu para elucidar a numerosa assistência, composta maioritariamente por estudantes da Escola Secundária, sobre as virtualidades e a importância do diálogo entre as religiões. Está de parabéns a organização por esta interessante iniciativa, que decorreu ontem de manhã no Centro Municipal de Cultura de Castro Daire.
O representante da comunidade judaica, Nuno Wahnon Martins, fez uma síntese da história da religião judaica, tendo realçado a origem comum das três religiões monoteístas, cuja paternidade cabe a Abraão. Referiu que há valores partilhados e comuns, sendo obrigação falar uns com os outros, e acentuou que o diálogo inter-religioso é um imperativo categórico, tendo frisado que o mesmo é entre homens de fé e não entre crenças. Lembrou que o desenvolvimento deste processo apresenta algumas dificuldades, entre as quais: 1. o anti-semitismo; 2. a islamofobia e 3. o proselitismo e a evangelização.
Anselmo Borges apresentou os grandes princípios fundadores do encontro e do diálogo entre as religiões: 1. antes de serem cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, agnósticos ou ateus, todos são primariamente seres humanos; 2. as três religiões abraâmicas têm o mesmo conceito de Deus como Pai e Criador, o que implica que todos os homens são iguais em dignidade e irmãos e 3. as religiões orientam-se e estão referidas ao sagrado e ao mistério, não conseguindo este mesmo mistério ser “dito” por qualquer religião. Referiu que, para uma melhor compreensão desta questão, Deus pode ser apresentado alegoricamente como uma montanha, onde as várias perspectivas ajudam a melhor ver e compreender a realidade. Concluiu afirmando que o diálogo entre as religiões deve radicar na tarefa e busca do Insondável e do Mistério, o que conduzirá necessariamente à conversão mútua.
Pelo seu interesse, aqui ficam algumas afirmações que foram sendo proferidas por Anselmo Borges:
-Ou nos entendemos enquanto é tempo ou nos afundamos todos;
-As religiões aparecem como cimento ideológico para muitas guerras que, antes de tudo, são estratégicas e económicas;
-O cristianismo é em bom rigor judeo-cristianismo;
-O diálogo impõe-se nem que seja por uma questão de egoísmo esclarecido;
-O diálogo ajudará a descortinar melhor o mistério de Deus;
-Há que distinguir Islão de islamismo, pois este último conceito já integra características que têm a ver com o fundamentalismo;
-Os direitos e deveres devem ser recíprocos: os princípios de convivência e de liberdade religiosa no ocidente exigem igual tratamento nos países árabes e muçulmanos;
-O olhar é para ser encarado por outro olhar e não para andar enfiado numa burka;
-A bíblia não foi ditada por Deus e não deve se considerada um livro de ciência, devendo os seus textos ser devidamente interpretados e enquadrados;
-Quem julga possuir toda a verdade arroga-se no direito de a impor;
-Os padres, imãs e rabinos não podem ter polícias ao seu serviço.
Os participantes sairam deste painel com a convicção que tinha sido um "diálogo oportuno".
Ver também aqui (link)