terça-feira, fevereiro 13, 2007

Grupo Desportivo de Resende (1.ª parte)

Reproduz-se um artigo de minha autoria, publicado, em Dezembro, no Jornal de Resende:

É o único clube de futebol federado do concelho, honra-se de ser a filial n.º 2 do Futebol Clube do Porto e já disputou a Taça de Portugal. Tem como objectivo, na presente época, a subida à 1.ª divisão distrital.

À excepção do Grupo Desportivo de Resende (G.D.R.), todos os outros clubes que militam na 2.ª divisão distrital da Associação de Futebol de Viseu representam e são provenientes de povoações que não são sede de concelho. Farinhão, Roriz, Fiais da Telha contam-se entre os onze opositores actuais do nosso clube concelhio. É legítima a ambição da subida de divisão para poder ombrear com algumas das suas congéneres “capitais” de concelho que militam na 1.ª divisão norte, entre as quais, S. João da Pesqueira, Armamar, Penedono e Sernancelhe. E a médio prazo (quem sabe?), o objectivo poderá ser a divisão de honra, que integra clubes de concelhos vizinhos da dimensão de Resende, como Cinfães, Tarouca e Moimenta da Beira.

Pequeno historial
O Grupo Desportivo de Resende foi criado no ano de 1928 por José Soares, Manuel Correia, Vinício Loureiro e Alfredo Teixeira, entre outros. O primeiro campo (improvisado) situava-se no local onde é actualmente o jardim municipal. Em 1937, foi encontrado um terreno maninho em Penuzém, junto de Vinhós, onde, por iniciativa de José Soares, do Paço, se fez um campo de futebol. Esta situação durou dois anos. A partir de 1939, os treinos e jogos com grupos da vizinhança decorreram no Largo da Feira. Finalmente, em 1943, foi doado por Pereira Dias à Câmara Municipal um terreno, para ali ser construído um campo de futebol num prazo de dois anos, o que viria a acontecer, dando origem ao Estádio de Fornelos (Cf. Duarte, Joaquim Correia, Resende e a sua história, vol. 1 C.M.R., 1994). Convém referir que, apesar de todos estes percalços, o Grupo Desportivo de Resende manteve sempre “a chama” e identidade própria.
Em 1949, o então presidente da Casa do Povo de Resende, P. Adelino Teixeira integrou, no âmbito desta instituição, o G.D.R. na FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), organização corporativa do chamado Estado Novo, onde disputou os respectivos campeonatos. Em 1951, o mesmo P. Adelino Teixeira filiou o G.D.R. na Associação de Futebol de Viseu, onde começou a disputar a 2.ª divisão distrital. Nesta mesma data, dotou o clube de estatutos, ficando como seu presidente da direcção. Passadas três épocas, eram campeões, subindo à 1.ª divisão distrital, onde permaneceu longos anos.

Gestão danosa
Há cerca de 8 anos, de acordo com a informação do actual presidente, Herculano Teixeira, começaram a surgir graves problemas com a gestão danosa do então presidente Sr. Figueiredo. Instalou-se a confusão entre negócios privados e a administração do clube, tendo utilizado dinheiros e passado cheques do G.D.R. para pagamento de dívidas pessoais, em prejuízo dos jogadores, cujos compromissos eram pagos com cheques sem cobertura. Já foi condenado em tribunal a pagar 4.000 contos ao clube, ainda não devolvidos, decorrendo ainda outros processos movidos por jogadores que se julgam lesados. Devido a esta situação, o Grupo Desportivo de Resende encontra-se inibido pelo Banco de Portugal de passar cheques.
Este passado recente contribuiu para diminuir o moral e o entusiasmo nos jogadores e adeptos, com efeitos nos resultados. E instalou a desconfiança na população, tornando mais difícil as contribuições financeiras e o aumento do número de sócios. Para inverter a imagem negativa que ainda perdura, a actual direcção está a levar a cabo um trabalho persistente na organização e no estabelecimento de objectivos para o clube.

Glória do passado
António Pereira é reformado da Câmara Municipal. Foi pedreiro, condutor de viaturas da Câmara e até auxiliar de electricista. Um homem dos sete instrumentos, que distribui juventude no café Sangens e arredores. No início do encontro, começou por me informar que chegou a trabalhar com o meu pai, Alfredo Borges, na Soenga, e a colaborar na instalação eléctrica da casa da minha irmã, Maria dos Anjos, em Quintãs de Paus.
Ingressou no Grupo Desportivo de Resende aos 16 anos, despedindo-se aos 42, tendo jogado na posição de interior-direito, na designação de então. Os seus olhos brilham quando refere que o plantel de então chegou a resultados de 20 golos sem resposta. Ri-se quando descreve o modo surrealista como uma bola entrou na baliza adversária, devido à alteração de trajectória por ter embatido num cabo telefónico, que ainda não tinha sido retirado das imediações do campo de Fornelos.
Desfia recordações do passado sempre com entusiasmo. Conta como eram angariados fundos antes de serem federados. De chapéu na mão, antes do início dos jogos, os “atletas” passavam pela assistência à espera de arrecadar umas moeditas. E refere a grande expectativa que estava reservada para as tardes de sábado, quando a lista de convocados era afixada na barbearia do Sr. Sílvio. A alegria de ter defrontado o Boavista, o Leixões e o Benfica, no campo de Fornelos, com alguns dos titulares de então, constitui um bálsamo para ultrapassar o efeito das muitas caneladas que levou, cujas maleitas ainda perduram.